Nos últimos meses, o panorama da manutenção automotiva no Brasil ganhou um novo contorno com a publicação de diretrizes que visam profissionalizar e regularizar os serviços em veículos eletrificados. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estruturou um documento que determina competências, certificações e critérios para oficinas que atuam com modelos híbridos e elétricos, refletindo a urgência de segurança e especialização no setor. Esse movimento é estratégico para acompanhar o crescimento acelerado desse segmento no mercado nacional.
De acordo com as novas normas, os mecânicos são classificados em três níveis de atuação, dependendo de sua experiência e treinamento. Esse modelo permite que cada profissional tenha um grau de responsabilidade compatível com sua qualificação, garantindo intervenções mais seguras e eficientes. Além disso, as regras definem claramente o tipo de serviço que cada mecânico pode realizar, sobretudo em componentes críticos como bateria de tração, sistema de alta tensão e motor elétrico. Isso reforça a importância de ter mão de obra especializada para evitar riscos e manter a integridade dos veículos.
A capacitação exigida pelas regras também chamou atenção: para atuar em alta tensão, por exemplo, o profissional precisa comprovar uma carga mínima de treinamento ou experiência prévia. Segundo as diretrizes, são necessárias pelo menos 160 horas de formação em instituição especializada, ou dois anos de trabalho na função automotiva, além de um curso adicional de 40 horas para lidar especificamente com os riscos elétricos. Dessa forma, há uma garantia de que esses profissionais dominem o funcionamento dos sistemas mais críticos dos veículos.
Outro ponto relevante é que o documento foi elaborado em conjunto com diferentes atores da cadeia automotiva, incluindo oficinas, centros de pesquisa e montadoras. Essa parceria fortalece a adoção prática das regras e assegura que as exigências reflitam a realidade das oficinas nacionais. Ao trabalhar de forma colaborativa, a ABNT promove um padrão técnico coerente, que permite padronizar procedimentos, garantir a segurança do trabalho e proteger tanto os mecânicos quanto os veículos.
Com a formalização dessas normas, espera-se um impacto direto na qualidade da manutenção dos veículos eletrificados. Oficinas que antes operavam sem diretrizes específicas precisarão se adaptar para seguir os novos critérios. Isso pode significar novos investimentos em equipamentos, treinamentos e protocolos de segurança. No longo prazo, a padronização tende a elevar o nível de serviço, reduzir falhas e acidentes, e consolidar uma reputação de confiança entre consumidores e prestadores de serviço.
Além disso, a iniciativa pode impulsionar a oferta de serviços especializados em todo o país. À medida que a frota de modelos com baterias cresce, a demanda por profissionais qualificados também aumenta. Ter essas novas diretrizes pode estimular cursos técnicos, certificações e programas de formação profissional, criando um ecossistema mais robusto de manutenção elétrica. Isso beneficia oficinas independentes e redes maiores, que poderão absorver essa demanda com mais segurança e previsibilidade.
Sob o ponto de vista da sustentabilidade, a padronização das práticas de reparação também contribui para a longevidade dos veículos, já que um serviço bem-feito prolonga a vida útil dos componentes como baterias e sistemas elétricos. Com isso, há redução de desperdício e maior eficiência no uso de recursos, reforçando a relevância dessas novas diretrizes no cenário de transição energética automotiva do Brasil.
Por fim, essa mudança mostra que o Brasil está avançando para acompanhar as tendências globais de mobilidade elétrica com responsabilidade. As novas regras para manutenção exigem mais dos profissionais, mas também oferecem segurança mais alta para os usuários, criando um ambiente em que o crescimento da frota de veículos eletrificados pode se dar de maneira sustentável e técnica. Esse tipo de regulação é essencial para consolidar o mercado de elétricos e híbridos no país e garantir que a evolução da mobilidade venha acompanhada de competência e segurança.
Autor: Laimyra Isarrel