Candidaturas coletivas no Brasil: legitimidade, legalidade e lacunas do Direito Eleitoral

Laimyra Isarrel
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Márcio Coutinho analisa os desafios de legitimidade e legalidade nas candidaturas coletivas no Brasil.

As candidaturas coletivas no Brasil têm despertado crescente atenção nos debates sobre representatividade democrática. O advogado Márcio Coutinho, especialista em Direito Eleitoral, frisa que esse modelo alternativo de candidatura reflete a busca por uma democracia mais participativa. Embora ainda careça de previsão legal específica, a prática tem sido aceita informalmente em algumas eleições, levantando questionamentos sobre sua legitimidade e os limites da legislação vigente.

Márcio Coutinho tornou-se, no final do ano passado, sócio diretor do escritório Nelson Wilians Advogado e, desde então, passou a conduzir o escritório no Estado do Maranhão, além de coordenar a área de Direito Eleitoral em todo o país. Nelson Wilians Advogado, com presença em todos os Estados, nas Capitais e em cidades estratégicas do interior do Brasil, além de representação na América Latina, Europa e ampliação para a África, atua em todas as áreas do Direito. Agora, o escritório amplia de forma expressiva sua atuação também na área Eleitoral, valendo-se de sua enorme capilaridade e da grande capacidade técnica de seus advogados. 

A legitimidade democrática das candidaturas coletivas no Brasil

A crescente adoção das candidaturas coletivas no Brasil evidencia uma tentativa de superar a crise de representação. Nessa modalidade, um grupo de pessoas compartilha um mandato legislativo, sendo representado formalmente por uma única candidatura oficial. De acordo com o Dr. Márcio Coutinho, esse fenômeno traduz a insatisfação popular com a política tradicional e representa um experimento institucional com potencial de renovação.

Ainda que não reconhecidas formalmente pela legislação eleitoral, tais candidaturas têm encontrado respaldo em movimentos sociais, coletivos e partidos progressistas. Elas visam ampliar a escuta da sociedade civil e fomentar decisões mais plurais. Contudo, a ausência de regras claras provoca insegurança jurídica tanto para candidatos quanto para o eleitorado.

Legalidade e interpretação da legislação vigente

No aspecto legal, o sistema eleitoral brasileiro reconhece apenas indivíduos como candidatos, o que torna as candidaturas coletivas um arranjo informal. Segundo Márcio Coutinho, a ausência de regulamentação específica cria um vácuo normativo que exige interpretação extensiva da legislação. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não consolidou entendimento definitivo sobre a prática, o que gera divergências entre os tribunais regionais.

As candidaturas coletivas ainda enfrentam lacunas no Direito Eleitoral, como destaca Márcio Coutinho.
As candidaturas coletivas ainda enfrentam lacunas no Direito Eleitoral, como destaca Márcio Coutinho.

A legalidade dessas candidaturas, portanto, depende da conformidade com as regras formais da candidatura individual, como registro, prestação de contas e responsabilidade jurídica. Apesar disso, os integrantes do coletivo compartilham decisões, dividem responsabilidades e constroem o mandato de forma horizontalizada, o que desafia o modelo tradicional de representação.

Lacunas jurídicas e desafios práticos do Direito Eleitoral

Mesmo com avanços pontuais no reconhecimento social, o Direito Eleitoral ainda apresenta lacunas significativas sobre as candidaturas coletivas no Brasil. Márcio Coutinho ressalta que a ausência de parâmetros legais pode acarretar implicações sérias, como a desconfiguração da responsabilidade política e jurídica. Sem um marco regulatório claro, há riscos de conflitos internos, disputas por protagonismo e dificuldade na apuração de irregularidades.

Ademais, há incertezas sobre como lidar com a saída de um membro do coletivo ou com divergências internas durante o mandato. Essas situações, como aponta o especialista, demonstram a urgência de um debate legislativo mais profundo sobre o tema. Para garantir segurança e legitimidade, é necessário regulamentar a atuação coletiva de forma compatível com os princípios constitucionais.

Perspectivas para a institucionalização das candidaturas coletivas

Apesar dos entraves jurídicos, cresce o número de candidaturas coletivas em eleições municipais e estaduais. Essa tendência indica uma possível transformação na forma de fazer política no país. Márcio Coutinho analisa que, se devidamente regulamentadas, essas candidaturas podem ampliar o acesso ao poder político por segmentos historicamente excluídos.

A institucionalização do modelo depende de iniciativas legislativas que reconheçam formalmente a coletividade na atuação parlamentar, definam responsabilidades e assegurem transparência. A proposta deve ser construída com diálogo entre juristas, parlamentares e sociedade civil, a fim de equilibrar inovação e segurança jurídica.

Inovação democrática exige segurança jurídica

As candidaturas coletivas no Brasil representam uma inovação importante no cenário político-eleitoral, mas enfrentam sérios desafios legais. O advogado Márcio Coutinho comenta que, embora sejam expressão legítima de uma nova forma de representação, sua consolidação demanda urgente regulamentação. Elucidar as regras que permitam a convivência entre individualidade jurídica e atuação coletiva será essencial para evitar inseguranças no processo democrático.

Nesse sentido, a construção de um marco legal específico, aliado ao fortalecimento da cultura política participativa, poderá transformar as candidaturas coletivas em uma ferramenta efetiva de renovação institucional. Até lá, a prática segue como um experimento democrático em construção, com potencial para fortalecer a cidadania, desde que amparada pelo ordenamento jurídico.

Autor: Laimyra Isarrel

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